O que é um psicopata?

          Como poderemos nós constatar que o nosso próprio vizinho é uma pessoa com características psicopáticas?
          Antes de mais, temos que ter em mente que a psicopatia é uma desordem da personalidade que se caracteriza pela falta de empatia para com o próximo, ou seja, incapacidade de se identificar com o próximo e de se relacionar com base em sentimentos harmónicos com outros indivíduos.
          De acordo com Hervey M. Cleckley, psicólogo americano que foi pioneiro na descrição da psicopatia em 1941, os psicopatas aparentam ser “normais”, ou seja, parecem integrar-se perfeitamente bem na sociedade, causando boa impressão nos demais, mas que, quando se apartam dos outros, têm comportamentos estanques comparativamente aos da sociedade.
          Com isto, pretende-se referir que não se deve ter em conta apenas o modo superficial como estes indivíduos sui generis se relacionam connosco no dia-a-dia.

          É crucial que tenhamos em conta certos factores, tais como:

                  • Falta de sentimento de culpa, sendo que os “sofredores” de psicopatia culpam os outros pelas suas condenáveis acções;

                 • Excessivo narcisismo e egocentrismo, ou seja, para eles próprios, apenas a sua vontade deve perdurar, menosprezando os outros e as suas opiniões e ideias;

                  • Ausência de sentimentos, afastando-os da classe humana, tida como uma classe distinta das demais precisamente pela perduração de sentimentos, como o amor, a compaixão, ou a empatia;

                  • Ilusão de inexistência de regras sociais, ou seja, para os psicopatas, não existem regras para viver em sociedade, sendo que podem infringi-las amiúde;

                  • Detestam compromissos, nomeadamente amorosos, já que têm dificuldade em manter relações;

                  • Elevada propiciação no que concerne a comportamentos agressivos, daí o facto de estes indivíduos cometerem vários homicídios (ligação ao termo serial-killer – assassino em série);

                  • Frequente recurso à mentira sem aparente razão, ou seja, não os beneficiando em nada.


          Estes indivíduos têm como principal apanágio, além destas características referidas, a inteligência, visível através do facto de se apresentarem minimamente integrados na sociedade, escondendo os seus impulsos destruidores. Este facto denota que os referidos indivíduos têm perfeita noção do seu comportamento – o que destrói a teoria de que os psicopatas não têm controlo sobre as suas acções – caso contrário não aparentariam, na presença de outros, ser minimamente normais.
          Ainda no que diz respeito à integração na sociedade, os psicopatas são dificilmente condicionáveis, já que é o condicionamento que educa o ser humano a viver em sociedade, por exemplo: uma criança aprende que não pode maltratar os seus colegas pois, caso contrário, surge a consequência – uma bofetada por exemplo. Isto significa que o “medo” de sofrer as consequências condiciona o comportamento da criança. Com um psicopata, tal facto dificilmente ocorre. Este tipo de indivíduos tem, portanto, um comportamento anti-social ou Transtorno da Personalidade Anti-social (1% das mulheres e 3% dos homens é incapaz de seguir as regras sociais impostas, segundo a Associação Americana de Psiquiatria).
          Estudos comprovam que, além das características apresentadas, os psicopatas são, na sua generalidade, extrovertidos (daí o facto de aparentarem ser excessivamente simpáticos e cordiais com os vizinhos, que não os conhecem intrinsecamente) e são, tal como os criminosos, emotivos e emocionalmente instáveis, o que se reflecte no seu comportamento.
 
          O seguinte diagrama representa o grau de emotividade (introversão e extroversão) de vários grupos de indivíduos patologicamente afectados pela neurose e de psicopatas. Este mesmo diagrama foi elaborado de acordo com respostas obtidas a questionários colocados a esses mesmos grupos de pessoas.
          Atentando no conteúdo do diagrama, pode observar-se que nos extremos da linha horizontal se opõem a introversão e a extroversão. A linha vertical, situada a meio da escala horizontal (zona de indivíduos “normais”) marca o grau de emotividade da extroversão e da introversão, segundo uma escala de 1 a 8, em que o número 1 é correspondente a um fraco grau de emotividade e o 8 diz respeito, indubitavelmente, ao grau máximo de emotividade.
          Ao cifrarmo-nos nos grupos de indivíduos representados no diagrama, podemos tirar como conclusão o facto de os doentes obsessivos e os doentes ansiosos (neuróticos), que se encontram no gomo da introversão, se oporem peremptoriamente aos prisioneiros americanos e, entre outros, aos doentes psicopatas. Este último grupo posiciona-se no espaço da extroversão, conjugando em si um grau de emotividade elevado (número 7 numa escala de 8).
          Como se pode comprovar pelo diagrama, neuróticos e psicopatas não se confundem, visto que estão em extremos opostos em termos de emotividade. No entanto, alguns psiquiatras enquadram os psicopatas no grupo das “neuroses”, embora difiram das neuroses correntes, caracterizadas por ansiedade, depressão e reacções emocionais duradouras.
          Quando submetidos os dois grupos a testes de personalidade, os dois grupos de “neuróticos” são semelhantes no que diz respeito à fuga do comportamento da sociedade normal. Além disso, ambos os grupos manifestam semelhante reacção emocional quando submetidos a diversos “estímulos dolorosos”. O que distingue estes dois grupos é a não persistência dessas mesmas reacções emocionais.
          Portanto, mesmo conjugando neuróticos e psicopatas numa única designação, existem, indubitavelmente, factores que os diferenciam.
          Como se pôde constatar anteriormente, existem vários factores que permitem identificar um psicopata, tendo em conta o seu comportamento. Todavia, existem testes psicológicos que também actuam nesse sentido. O seguinte teste psicológico é um exemplo dos muitos testes a que podemos recorrer para averiguar da personalidade psicopática (ou não) de um indivíduo.
          O teste seguinte consiste numa pergunta que permite constatar se um indivíduo apresenta traços psicopáticos:
          “Uma mulher, no funeral da sua mãe, conhece um rapaz, por quem se apaixona. Os dois começam um namoro. No entanto, após uma semana, o rapaz desaparece sem mais nem menos. No dia seguinte, a mulher mata a sua própria irmã. Por que é que ela o fez?
          Resposta: Ela matou a sua própria irmã, pois tinha em mente que, no funeral desta, o tal rapaz reaparecesse.
          Para um psicopata, os fins justificam os meios, como se pode comprovar através do que a mulher do teste anterior fez.